domingo, outubro 22, 2006

AUTOBIOGRAFIA SEM FACTOS - excerto


Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido – sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não- significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.

(...)

LIVRO DO DESASSOSSEGO

6 Comments:

Blogger euexisto said...

muito bem visto. acho que toda gente acredita em deus. vão-lhe atribuindo nomes diferentes e adorando e odiando de formas variadas. quanto à humanidade, é pura mania de superioridade em relação aos outros animais. nunca vi um cão lutar pela canidade.

5:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não sei se de certa forma não seremos realmente animais superiores. Nos dias que correm é sempre muito bonito falar em igualdade entre animais. Concordo que do ponto de vista do direito a viver, sejamos todos iguais. Mas quanto às capacidades cognitivas, lamento desapontar: o Homem é um ser superior nem que seja pelo facto de ter consciência de existir. E mais: tem consciência de que tem consciência disso.
Com isto não quero dizer que esta faculdade nos dê o direito de menospresar as outras espécies, mas é inevitável- quase instintivo - que hierarquizemos o mundo tendo-nos como unidade central.

6:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Desculpa, daniela, não concordar contigo... como sabes tu que os outros animais não têm conciência de que existem? por não filosofarem acerca disso e n terem habilidade de escrever... o que nos separa de um gorila... o que nos torna melhores que um elefante... ambos têm costumes, modos de viver em sociedade e maneiras de comunicar... o que me garante que não tenham consciencia de q existem? a minha incapacidade em os compreender?
Tal como todos os seres humanos são diferentes entre si, também os diferentes animais o são... e no entanto, serãos uns seres humanos superiores aos outros? serão uns animais superiores aos outros? serão sequer as capacidades comparáveis? eu acho que não...

6:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não são em si superiores, mas possuem de facto capacidades superiores no sentido em que são um passo em frente na adaptação. Quem melhor manipula o ambiente que o homem? Que animal tão fisicamente indefeso conseguiria adaptar-se e dominar de tal forma vários e tão antagónicos ambientes, desde o equador aos pólos? Quem mais demonstra a capacidade de manipular conceitos? Quem tem um sistemas de linguagem(e não estou a falar de sistemas de comunicação)?
(Depois continuo a resposta,estou na aula de estatística!)

6:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E aqui estou para continuá-la.

A capacidade de manipular objectos não é exclusivamente nossa, obviamente. E não é porque: os outros animais têm instintos que os levam a fazê-lo, ou ainda, há animais que têm consciência de existir(por exemplo o Gorila)- o que revela um desenvolvimento cerebral superior- e que têm de facto estrutura social, papeis a desempenhar,e consciência deles, tal como nós.

Mas o que eles não têm é consciência de que têm consciência de existir! E o que é que isso interessa? Tudo. Somos por isso capazes de nos desdobrar em dois, de ser e de "ver ser". De estar no mundo e representar através de conceitos o que apreendemos dele. E mais de tratar os objectos indirectamente: Para sabermos e comunicarmos o que é uma mesa, não precisamos vê-la. É ao seu conceito- uma "simples" invenção que se tornou convencional - que recorremos. Falamos o que não existe, tratamos com o que não existe. Temos crenças!


Sim, as formigas têm uma sociedade complexa. As abelhas têm um sistema de comunicação sofisticadíssimo. Os chimpanzés aprendem a contar. Mas serão as formigas inteligentes? Teriam capacidade de reformular o seu sistema social? E as abelhas, eram capazes de criar símbolos para além dos que conhecem? Os Chimpanzés, viveriam nos pólos?


Não somos melhores que o gorila. Temos outras capacidades. É só. Mas é esse só que faz com que dominemos a terra em toda a sua latitude. Não é a nossa incapacidade de os compreender que faz com que esses animais sejam ditos "inferiores", é a sua incapacidade de compreender, de ser mais do que um existir.


É óbvio que eles são seres capazes. Quem não fica encantado com a velocidade da pantera? Com o cantar do pássaro?

É preciso não confundir inferiores (menos dotados cognitivamente) com piores: só porque sabemos mais, teremos o direito de dizer que somos melhores e por isso fazermos o que queremos sem qualquer respeito? Justamente por termos essa compreensão é que devemos pensar seriamente sobre os direitos dos OUTROS animais.
Uma visão egoista e antropocêntrica do mundo é, pois, sinal de pouca consciência, e pouca intelegência.

2:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Já agora, desculpem o testamento!:D

2:08 da tarde  

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